Por Ana Krepp
Sua tia hiperinformada deu a dica: os restaurantes mais caros da cidade estão com preço tabelado até o domingo. Tabelado para baixo, o que é mais importante – custa 29,90 o almoço e 39,90 o jantar -. Ela soube da “liquidação” gastronômica em um dos milhares de guias que os jornais produzem – quase com alívio de ter conteúdo em épocas como essa – sobre o assunto.
O Restaurant Week está em sua oitava edição e possibilita que estudantes duros (ok, sem redundâncias) possam se não freqüentar, ao menos conhecer ambientes sofisticados em que, normalmente, se serve comida a preços estratosféricos. Essa semana não é normal. Aos que acompanham o evento desde a primeira edição, rola uma ansiedade sobre quais estabelecimentos entraram esse ano, quais os cardápios da promoção. “Fiquei com vontade de comer peixe, entrei na internet para procurar quais os restaurantes do meu bairro que tinham isso no cardápio, sentei, comi e amanhã irei a outro”, comemora o ator Dênis Antunes.
Não é preciso dicas sobre como aproveitar o evento, mas, sucumbindo à tendência, eu sugiro levar uma namoradinha nova, ir com amigos de longa data ou sozinho, como que por um brinde à sua própria companhia.
Mas aí você corre o risco de não encontrar lugar quando chegar ao mais badalado francês ou mediterrâneo. Ligar antes e reservar é quase lei. No Bargaço, que serve frutos do mar na Oscar Freire, as reservas da semana toda esgotaram na segunda. É, parece que mesmo quem tem grana aproveita para economizar nessas oportunidades. E não tiro o seu direito de se sentir sacaneado por perder uma reserva pra um cara que chega de Accord no vallet (que é cobrado à parte, claro) do lugar. Tampouco me furto a lembrar: o evento não é um tipo de benfeitor social, em que os que têm menos finalmente poderão usufruir de serviços e produtos de qualidade. Poderão. Também.
Apesar de ser patrocinado pela Mastercard, co-patrocinado pela Sodexo e apoiado por outras empresas, a brincadeira não é lá tão baratérrima assim. Em comparação com os valores praticados por uma parte dos restaurantes participantes (algo em torno de 90 reais), a investida vale a pena. Mas há algumas armadilhas, como o vegetariano Apfel, que fora da promoção cobra R$ 21,00 e dentro, R$ 29,90.
Pode acontecer de você ser mal servido, afinal, com a venda de produtos mais baratos os garçons veem sua gorjeta diminuir substancialmente. A grande verdade é que eles têm o poder de saber, antes mesmo de o sujeito entrar no restaurante, que esse vai pedir o cardápio week. “Os garçons deram menos atenção à nossa mesa que a dos outros clientes e tentavam o tempo todo nos empurrar bebidas caras pra compensar o valor baixo da nossa refeição”, indigna-se Mariana Leme, artista plástica que jantou com amigas no Bistrô Boa na noite de quarta.
Até domingo, dia 3, a aventura é possível: driblar os contratempos que podem te fazer repensar sobre se vale pagar menos por uma refeição num lugar de qualidade ou se é melhor pegar os seus quarenta reais que, convenhamos, não é pouco, e ir ao restaurante do seu bairro, que no dia-a-dia é honesto.